segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA: FOTOGRAFO DEDE FEDRIZZI

Fonte: Usefashion / Entrevista por Lucas Schwantes lucas.schwantes@usefashion.com
  
"Dede Fedrizzi é um homem sem fronteiras. Tanto físicas quantos emocionais, uma vez que suas criações misturam habilidade e inspiração sentimental que vai além do retrato. Nascido em Porto Alegre (RS), desde muito cedo passou a dedicar sua atenção para a fotografia. Já morou em diversos países da Europa e nos Estados Unidos, onde se formou em Belas Artes, pela Universidade de Nova York. Fronteiras, fotografia, arte e sentimento balizaram nossa conversa com o fotógrafo."
 Na sua avaliação, quais os rumos da fotografia em geral. Fadada a desaparecer ou ainda deve remanescer?
Dede Fedrizzi - A fotografia sofreu mudanças muito grandes e muito rápido. Muitos fotógrafos profissionais ficaram pelo caminho. De uma hora para outra, não existiam mais filmes e revelações. Os nomes são outros: Pixels, DPI´s, Megabites, Gigabites, Memórias Ram, computers, Photoshop. O fotógrafo de antes tinha que entender muito mais de luz e preparações de cena. Porque ele só iria ver o resultado depois de revelado. Ou seja, não podia errar na hora da execução. Com a foto digital, temos a chance de experimentar de tudo, e ver em tempo real os erros. A vida ficou muito mais fácil. E com as câmeras cada vez mais fazendo tudo sozinhas, a fotografia está se banalizando. As pessoas clicam indiscriminadamente de tudo. Eles nem param mais pra observar a cena antes de clicar.
 As novas tecnologias banalizaram a arte fotográfica?
DF - Sim. O problema não são as tecnologias novas. O problema é deixar a tecnologia fazer as coisas por você, por preguiça. A banalização vem da falta de cuidado ao fotografar. Se usarmos a tecnologia digital respeitando a arte fotográfica, ou seja, pensando, escolhendo, selecionando, procurando um ponto de vista melhor antes de apertar o botão, o resultado pode ser fantástico. Tecnologias novas nos proporcionam plataformas novas. Você pode trabalhar uma foto no Photoshop de formas infinitas. Saber onde parar, ou usar essa ferramenta com bom gosto, e o que diferencia o genial do medíocre.

O quê diferencia atualmente a qualidade de uma foto é a mensagem (sentimento implícito nela) ou ainda é a técnica?
DF - A técnica é o básico. É como um músico. Ele, quando toca bem, não pensa sobre o instrumento. Pensa sobre a música. O que diferencia um fotógrafo de outro, não é exatamante a técnica. A diferença está na cabeça. Na formação artística de cada um, nas suas experiências de vida, na carga emocional adquirida. Uma pessoa com uma vida vazia, certamente fará uma foto vazia.
 Como a cena a ser fotografada se forma em sua mente?
DF - Não falando do meu trabalho comercial de publicidade e moda (onde as fotos têm uma finalidade comercial de venda de algum produto), o meu trabalho de galeria ou fine arts surge de maneira bem particular. Muitas das imagens que crio vem do inconsciente. Elas surgem sem controle, depois são elaboradas e escritas por mim. Tenho um caderno de ideias. As vezes são imagens pensadas, mas normalmente elas vêm de uma pasta na minha cabeça, onde são guardadas as emoções.

Como funciona seu processo criativo, agora perguntando de uma forma mais metódica, menos inspiracional?
DF - Cada pessoa tem seu próprio processo criativo. É uma coisa bem particular. A minha maneira de criar vem do acúmulo de vivências e observações. Explicando melhor, funciona mais ou menos assim: todas as coisas que atraem a minha atenção, as coisas que marcam a minha vida de alguma maneira, de forma boa ou ruim, todas essas memórias de belezas e tragédias, ficam arquivadas na minha cabeça. Quando eu quero criar algo, essas imagens se combinam, e me sugerem a imagem que estou procurando. Uma foto minha tem um pouco de World Trade Center, de um show do Peter Gabriel, de um conto de Julio Cortazar, de um olhar inesquecível, somado a um filme de David Linch. Por isso é que devemos ter uma vida rica de experiências, para que possamos, no mínimo, ter matéria-prima de criação.
Você se considera um cigano internacional, pois viveu em diversos países e teve inúmeras experiências. Como estes fatores e culturas influenciam na sua interpretação de comportamentos?
DF - Sempre fui bastante inquieto. Enquanto tive coragem, não me prendi a nada. Nunca fui regionalista. Não me considero gaúcho, nem de lugar nenhum. Não acredito em países. Acredito em planeta. Aliás, esse conceito de país ou região é o que ajuda a estragar as relações humanas. Talvez por isso, eu mude de país meio sem cerimônia. Não aceito que alguem me chame de "gringo", quando estou em outro país. Me sinto pertencendo ao mundo. Ponto.

Já assistiu ao filme "Antes que o mundo acabe"? A história de um fotógrafo que vai morar fora em busca da essência da fotografia se relaciona com a sua?
DF - Assisti ao trailer agora. Bacana. Vou pegar pra ver. Pelo o que entendi, a história do pai é parecida com a minha. Nasci e cresci em Porto Alegre, e muito cedo essa cidade ficou pequena pra mim. Sai daí com 16 anos, e comecei a correr o mundo. Sempre fotografando. Trabalhei em muitos países e para muitas revistas. A fotografia me abria as portas para amizades novas, e novos países. Essa sempre foi a minha paixão, e a minha vontade de conhecer o mundo foi o que fez a minha fotografia crescer.

Entender a interação entre as pessoas e o ambiente reflete de que forma no seu trabalho?
DF - Reflete muito pouco. Trabalho com pessoas. Mas o que elas fazem ou pensam não me interessa muito. Sempre segui meu próprio instinto. O ser humano é supervalorizado. Tudo é feito em função dele. Me interesso mais pela vida e morte, pelas coisas invisíveis, pelos sentimentos guardados no inconsciente, do que pelo comportamento humano. Embora use pessoas como objetos de cena.

Qual caminho tem mais campo para a fotografia atualmente? Publicidade, jornalismo ou outra?
DF - É dificil dizer. A fotografia comercial, como a própria publicidade, está passando por transformações fortes. Quase todas as imagens estão se transformando em imagens em movimento. O filme será dominante. A fotografia de arte está em crescimento no mundo.

Um fotógrafo que admira, qual motivo?
DF - Javier Vallhonrat, fotógrafo espanhol que passou pelo mundo fashion, depois o publicitário, e atualmente se dedica mais
a projetos de arte. Ele sempre foi inovador. Tem uma visão estética apurada, assim como sensibilidade para cores fora do comum.

Quais os rumos profissionais que pretende seguir?
DF - Vou seguir fotografando e filmando. E cada vez mais voltado para fotografia de arte, e menos fotografia comercial. Também iniciei uma empresa de produção de conteúdo artístico."

Fotos: Dede Fedrizzi/Divulgação

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